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Noites de quinta-feira do clube Danger são sexualmente ativas

Quintas proibidas, mas não perigosas

Sucesso absoluto da casa, as noites de quinta-feira do clube Danger são sexualmente ativas

A conversa durou cerca de dez minutos, pouco antes de Carlos subir ao palco. O rapaz de 34 anos é um homem de poucas palavras. Talvez fosse porque estava se aquecendo para a apresentação. Nu, vestido apenas com tênis e meia, alguns colares no pescoço, óculos escuros ("porque a luz incomoda o olho") e com um boné azul virado pra trás, ele se masturbava para manter a ereção de seu enorme pau enquanto respondia as perguntas da reportagem.

Morador do Parque Cecap, um dos bairros mais conhecidos da cidade de Guarulhos, Carlos responde que é heterossexual. "Meu negócio é mulher", diz. Até aí tudo bem, não fosse o inusitado do rapaz estar no backstage do palco da Danger, boate gay localizada na rua Rego Freitas nas imediações que ficou conhecida como quadrilátero da Boca do Lixo, no Centro de São Paulo. É quinta-feira e Carlos é protagonista de um show de sexo ao vivo na noite conhecida como "Quintas Proibidas". Ele faz o papel de ativo durante as apresentações que rolam na alta madrugada e duram pouco mais de cinco minutos.

Hétero convicto e casado (com mulher), diz que com homens só faz ativo, e só em cima de palcos. Diante de um membro de 23 centímetros a pergunta que vem a mente é: "E não dói? Nunca ninguém reclamou do tamanho?". "Eu faço com jeitinho", revela Carlos que sempre usa camisinha e lubrificante nas apresentações. O que faz para ficar ereto? "Penso em mulher". A concentração parece ser tão rígida quanto seu pênis diante das drags montadas e gogo boys nus que passam para o camarim cobrindo os membros sexuais já meia-bomba depois dos strips. "É para não esbarrar em ninguém, que é muita falta de respeito", explica.

Carlos está na ativa há dez anos. Estar no palco já faz parte da rotina. Conta que além das performances na Danger, também faz shows e strips em saunas e cinemas gays. Nunca desempenha o papel de passivo e recebe entre R$200 e R$400 por cada apresentação. O dinheiro, aliás, foi o motivo pelo qual aceitou fazer os shows. Casado também há uma década, o ator revela que só houve stress por causa da profissão uma vez. Como resolveu o impasse? "Falei pra ela: quando você me conheceu eu já fazia isso, agora vai vir com essas idéias? ".

E o parceiro passivo, é gay ou hétero? "Hétero também. O negócio dele é mulher. É o Léo, pode perguntar pra ele", afirma Carlos que já tem com Léo uma espécie de parceria. Inclusive, foi através de Carlos que Léo começou no ramo. Há quatro anos o rapaz de 27 anos que sobe ao palco vestido apenas com tênis, jockstrap e uma máscara de lã com furo nos olhos e na boca, começou a fazer performances desse tipo.

Léo é o apelido de Leon. "É como todos me chamam e me conhecem", contou durante a conversa que aconteceu depois da apresentação, já vestido de calça jeans e camiseta. Sobre a parceria com Carlos, diz que garoto de programa há dez anos, um dia estava numa sauna e assistiu uma apresentação de Carlos. Enxergou ali uma oportunidade. "Vi que podia ser uma porta se abrindo na minha vida, falei com o Carlos, queria saber como fazia para trabalhar com isso", relembra Léo que a partir daí passou a se apresentar em dupla com Carlos, fazendo o papel de passivo.

Questionado sobre o porquê de entrar no palco com máscara, a resposta é meio batida. "Quem está lá em cima é o Leon, um personagem. Uso máscara desde a primeira apresentação." E fora do palco, sem a máscara? Leon ou Léo? "Depende da pessoa e do grau de intimidade." O que sente durante as performances? Não dói o pau de 23 cm? "Não. Não sinto nada relativo a dor. Mas não sinto tesão nenhum também. Já me apresentei até com a perna quebrada. Pergunta pra Cindy", diz [chamando a colega de profissão que faz a performance lésbica do show]. A amiga entra na conversa. "É verdade, já mesmo. Aqui não tem essas não. Também já trabalhei com cólica e com o braço quebrado. Tava lá no palco, toda torta, fazendo sexo, linda!", divertiu-se contando. O rapaz conta que quebrou a perna numa queda de moto. "Caí na terça e na quinta tava lá, com o gesso na perna quebrada e todo ralado", lembra rindo da situação.

Sobre sua sexualidade mostra bastante segurança. "Não sinto tesão em homem. Pode colocar na minha frente o homem mais bonito do mundo e a mulher mais feia. Eu vou na buceta. Não gosto de homem. Eu gosto é de dinheiro", revela Léo que a pouco mais de um mês começou a namorar uma garota atriz de filme pornô. Ela sabe de sua profissão e entre eles não rola muito ciúme. "O meu ciúme dela é mais profissional, não quero ficar sabendo muito com quem ela gravou, com quem fará a próxima cena. O ciúme dela é mais pessoal, se uma garota chegar em mim", confessa.

Assim como Carlos, Léo também se apresenta em outras casas noturnas, cinemas e saunas gays, inclusive de outras cidades. O papel de passivo só faz com o Carlos. "Já conheço o jeito dele, sei como é". Consegue se sustentar assim? Diz que tira em média R$1.500 por mês com suas apresentações. O dinheiro que ganha, dos shows e dos programas, Léo investe na reforma da casa, onde mora no Butantã, zona oeste de São Paulo, e na aquisição de imóveis. Capricorniano, nascido em 22 de dezembro, diz que controla bem seus gastos. "Quando chego em casa anoto até quando pago um real num Halls na porta da balada". Quando completar 35 anos pretende viver da renda de seus investimentos e ser dono de seu próprio estabelecimento, provavelmente um bar de rock, apesar da predileção por "clássicos dos anos 70, psy e o som do DJ Vlad".

A reportagem também conversou com Paulinho 80, o homem por trás do sucesso das Quintas Proibidas. Com experiência de 18 anos produzindo shows e festas na noite paulistana, promoter, divulgador e drag-apresentador, é responsável pela escolha das drags, gogo boys e strippers de cada quinta. Durante o dia também promove shows de garotas em cinemas pornôs no centro da cidade. Faz questão de dizer que não é cafetão e ressalta: "O que cada um faz fora do palco é problema dele". Não entra muito em detalhes de quanto paga para os agenciados, mas tem uma boa explicação do porque o serviço vale à pena. "A situação no Brasil é preta. Não tem gente que dá o cu de graça? Então porque não dar o cu no palco ganhando pra isso?".

*Matéria originalmente publicada na edição 11 da revista A Capa

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