Edith Modesto é educadora, mestra e doutora em Semiótica Francesa pela USP – Universidade de São Paulo. Possui vários livros publicados com foco na temática jovem, mundo digital e outros. Porém, o seu trabalho ganhou destaque quando ela fundou o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), em 1996, com o intuito de auxiliar os pais no processo de aceitação da homossexualidade de seus filhos. Em seguida, Edith criou também o Projeto Purpurina, cuja idéia nasceu a partir do GPH, pois "muitos jovens ligavam para saber do GPH e de que maneira eles poderiam falar com os pais". Este 2008, o Purpurina completou um ano.
Do acúmulo do seu trabalho com o GPH e também de uma necessidade pessoal, Edith Modesto escreveu o seu primeiro livro com temática LGBT, ‘Vidas em arco em íris – depoimentos sobre a vida homossexual’. Agora, ela retoma o tema em seu novo livro, "Mãe sempre sabe? Mitos e verdades", que tem lançamento marcado para o dia 18 de outubro, às 19h, na Livraria Saraiva do Shopping Paulista. Sobre os livros, Edith diz que no primeiro fez um trabalho para ela "e para outra mãe. Agora a história é outra, já tenho dez anos de experiência com os pais e com os filhos. Quero ajudar com a minha experiência".
Confira a seguir a entrevista na íntegra com Edith Modesto.
Ambos os livros são frutos do GPH e do Projeto Purpurina?
São. Com a diferença de que o primeiro fiz um trabalho para mim e para a outra pessoa, tinha a idéia de conversar entre iguais, de que podíamos nos ajudar. No primeiro livro, eu queria saber como eram os homossexuais, porque eu nunca tinha pensado no assunto. Comecei a falar com eles pela internet, era uma coisa de busca, de ajuda. Este, segundo, já é outra coisa, tenho dez anos de vivência com pais de homossexuais, estou mais tranqüila. Agora posso ajudar com a minha experiência.
De que maneira você acredita que os seus livros podem ajudar nessa relação entre pais e filhos homossexuais?
Pode ajudar muito, porque as mães tem um processo de aceitação, tem fases. Eu conheço cada etapa e isso está no livro.
Do que trata o seu livro novo?
Nele trabalho cada etapa que a mãe passará para aceitar o seu filho: os medos, as dúvidas, todo esse processo. Também falo sobre os jovens, eles querem saber como conversar com a mãe. No livro há depoimentos de cada fase. Abordo a questão sobre os pais homens: como é o processo para eles? Percebi a dificuldade das meninas, pois é cultural a menina crescer e ter filhos. Muitas dessas meninas percebem que não estão felizes em seus casamentos e, quando mais velhas, podem se apaixonar por outras mulheres. Há o caso de mulheres lésbicas que não sabem que o são. Também abordo a questão da religião e sobre a dificuldade de como lidar com isso. Falo sobre as seguintes religiões: budismo, evangélicas, espíritas e outras. O livro varre as questões problemáticas e correntes aos homossexuais.
Você está há dez anos envolvida com trabalhos entre jovens gays e as suas relações com os pais. Você diria que tal convivência melhorou?
Está bem melhor. Não só com a família, a vida do jovem está melhor. Hoje ele tem a internet, onde pode se relacionar com iguais; tem locais de convivência que não são marginalizados como antes. Mas, não melhorou tanto quanto parece. Se você pergunta na rua: ‘você tem preconceito com homossexuais?’, dirão que não. Agora, se for na casa da pessoa… Há um longo caminho ainda. Ainda há pais que expulsam os seus filhos de casa, que os torturam emocionalmente. Hoje se fala mais do assunto, as pessoas acolhem mais, a mídia fala mais. Pra você ter uma idéia, o MUBE (Museu Brasileiro de Escultura) me convidou para lançar o livro e não apenas isso, irão divulgar o lançamento em seu próprio mailing, isso é bom porque irá atrair pessoas de fora, não apenas amigos e pessoas envolvidas com a questão.
Quem te procura mais: pais ou jovens gays?
Acho que é equivalente. Quando os jovens souberam do GPH, eles queriam saber como falar com os pais. Pra você ter uma idéia, no último encontro do GPH vieram três novos casais e, no último encontro do Purpurina, vieram seis novos jovens, ou seja, igual. O interesse é equilibrado.
Há quem sofra mais nessa relação: pai x filho gay?
Olha, depende. Não dá pra afirmar. Tudo vai depender da família. Tudo o que eu sei é que há uma injustiça com os filhos. A mãe educa o filho, e quando descobre o filho gay, ela fica sem saber o que fazer, de uma certa maneira ela estranha o filho, isso é uma fase e eu também falo sobre ela no livro. O que falta em nossa sociedade é: os pais precisam aprender a viver com a possibilidade de ter um filho gay.
O título do seu novo livro é: "Mãe sempre sabe?". Pergunto, mãe sempre sabe?
Depende da família, da formação daquela mulher, como foi infância, tudo depende de um conjunto de coisas. Não é pontual, é complexo. Por isso escrevi esse livro, a resposta está lá.
Há muitas crianças que desde cedo mostram sinais de uma possível homossexualidade, como meninos vestirem roupas de menina, meninas brincarem com carrinho. Pode ser que na adolescência essa criança assuma sua homossexualidade. Como uma mãe deve ser preparar para tal processo?
Quando é criança pode brincar de qualquer coisa, são experiências. Claro que eles mostram diferenças culturais frente as outras crianças. Mas, tem que se respeitar a criança, mais tarde ela pode ser gay, ou ter uma identidade de gênero diferente. Quando criança ela monta a sua identidade. É bom que a mãe ajude e deixe essa criança brincar, deixe o menino vestir roupa de menina, passar maquiagem. Isso faz parte da pedagogia moderna. A criança tem o direito.