Quando penso na cena rock de São Paulo na década de 1990, sempre lembro que a quantidade de meninas em shows era imensamente inferior ao que é hoje! Lembro que por volta de 1998 sempre comentava com amigas como seria legal se tivessem mais meninas nos shows… Hoje acho uma super conquista ver que, pelo menos nos shows de bandas de mulheres, a freqüência é de maioria feminina!
Mas de lá pra cá, ao longo do tempo, juro que teve quem conseguisse fazer críticas negativas a esse aumento do público feminino. Eu mesma ouvi gente dizendo que era puro modismo! Ouvi que ser lésbica estava na moda, que as meninas mais novas se espelhavam nas dykes das bandas e queriam beijar meninas também…
Sempre que ouvia esse tipo de coisa ficava imaginando se o cara idiota que dizia isso já teria parado pra pensar nas dificuldades que enfrentamos ao assumir uma orientação diferente da heterossexual… Afinal, quem pensa sobre isso sabe que ninguém acorda um dia e escolhe ser sapatão – leia-se ouvir ofensas, apanhar de skinhead na rua, tretar com a família – só pra seguir a última tendência da moda!
No entanto, desde que senti firmada minha orientação bissexual venho reparando que muitas dykes acabam cometendo o mesmo erro do cara idiota que falei ali em cima…
Poxa vida! Claro que seria mais fácil definir que gosto apenas de homens – ou de mulheres – daqui pra frente e parar de lidar com o preconceito do outro grupo. No entanto, dessa forma estaria cedendo a uma pressão social e optando por exercer apenas um lado dos meus desejos. Ou seja, não é uma questão de decidir pelo mais fácil, mas sim de compreender, firmar e aceitar uma identidade, com todos os fetiches e vontades que couberem nela.
Não sei se deu pra entender onde eu quero chegar, mas realmente não consigo entender como um grupo que é marginalizado exatamente por causa de sua orientação sexual pode discriminar outro grupo pelo mesmo motivo!
Enquanto continuarmos reproduzindo os preconceitos que recebemos, o status quo fica mais forte e as minorias se fecham cada vez mais em seus guetos. Criando guetos dentro de guetos estamos dando tiros nos próprios pés… Da mesma forma, quando uma dyke fica indignada por uma bi “ter tesão em um pau” ela está exatamente justificando os mesmos argumentos discriminatórios que são usados contra ela por causa de sua orientação.
Acredito que essa discriminação – como quase todas – venha do desconhecimento. A bissexualidade quase sempre é velada nas conversas sobre sexo e eu insisto que se falarmos mais sobre ela podemos diminuir essa “dificuldade de compreensão” e conviver com mais harmonia.
Mas esse tema ainda vai longe… Vou parando por aqui porque tenho tendência a me estender demais e esse assunto ainda rende a próxima coluna… Até lá!