Eu mal podia acreditar que ela tinha topado o meu convite. Viajávamos, enfim, para passar o fim de semana juntas. E, enquanto seguíamos no carro, ouvindo as músicas que trocamos ao longo dos últimos meses, segurei a sua mão pela primeira vez… entre a marcha e o destino.
Ela sorriu olhando para mim. Timidamente disfarcei olhando pelo retrovisor. A estrada estava a nossa frente como uma analogia do tempo: passado e, futuro desconhecido.
Lembrei de tudo como aconteceu. Uma amiga me convidou para a exposição e fiquei encantada com a delicada forma que a artista conseguia se expressar. Fiquei por quase vinte minutos parada diante de um dos quadros, quando uma mão tocou meu ombro por trás: – esse eu levei cinco anos para concluir.
O quadro era lindo, fato, mas, confesso, que quando me virei e olhei quem era, fiquei nitidamente atordoada. A única coisa que consegui responder sem pensar foi: – puta merda, cinco anos?!
Ela sorriu automaticamente com minha reação espontânea. E foi naquele sorriso lindo que me perdi. Falamos sobre arte e pintores, mas quase não prestei atenção no que dizia porque fiquei hipnotizada a observar seus gestos,a forma agoniada que ela tinha de gesticular ao falar, sempre mexendo muito os olhos, passando a mão na boca, remexendo os cabelos acinzentados, jogando charme para todos os lados.
Como ela era linda! Tinha vinte anos a mais que eu, mas eu a quis desde o primeiro sorriso. Enquanto falava eu mergulhava no seu rosto largo, nos olhos enormes, nas covinhas que tinha ao sorrir. Quis ela para mim no mesmo instante, desde o primeiro. Era magra, mais alta que eu, tinha peitos fartos e cor de quem corria na praia todos os dias. Inteligente, bem-humorada e naturalmente sedutora uma tatuagem no ombro e uma chave tatuada no braço. O que seria aquela chave? Que estória teria?Cismei com aquela mulher. Estava decidida a tê-la para mim.
Logo ela precisou sair e se apresentou com um sorriso no canto da boca: – eu sou Lígia Valasquez.
“Maria, prazer. Adorei sua exposição, você é muito talentosa.”
Na semana seguinte descobri todos os seus telefones e a convidei para um café. Para minha surpresa ela lembrou de mim, em meio àquela quantidade de gente, e topou.
E assim passamos uma tarde inteira juntas, falando sobre tantos assuntos quanto era possível. Ríamos todo o tempo, a afinidade foi instantânea e eu sentia muito desejo de beijá-la, mas não sabia qual era a dela. Ainda assim podia sentir o seu nervosismo de longe. Dava para ver a veia perto do pescoço pular, quando eu chegava perto dela.
Entre cafés e risos, desejos reprimidos e desconhecidos, na segunda vez fomos para o teatro. Tentei encostar minha mão na mão dela, disfarçadamente, mas sem sucesso. No terceiro encontro fomos caminhar na praia e, ao sentarmos para descansar no fim da tarde, escrevi com o dedo na areia: “O que eu preciso fazer?” E olhei seriamente para ela, que, querendo não entender, me fitou profundamente os olhos.
“Para ter você para mim?”, completei verbalmente, olhando firmemente para seus olhos amendoados.
Séria e levemente assustada, tirou os olhos dos meus, levantou e disse que precisava ir embora. Por trinta dias precisou sumir e eu precisei deixá-la ir. Sempre acreditei que o que era para ser tinha muita força. E há coisas que precisamos renunciar para aprender a possuí-las.
Até que, no dia do meu aniversário, ligou para me dar os parabéns e contar de sua nova exposição. Foi então que criei coragem e a convidei para viajar comigo por um fim de semana.
– “Maria… você não tem medo da diferença de idade entre nós duas? Tenho medo de me machucar e ainda mais de te machucar…”
-“Li, eu não vou machucar você e não me importo que me machuque. Eu não tenho medo,nunca tive. A gente perde muito quando sente medo, sabia?”
Nunca quis desistir dela, apesar de qualquer pesar, e sabia que muito possivelmente não tinha mais volta. Ela também.
-“Eu tenho a idade de ser sua mãe, Maria..!”
– “Você nunca será minha mãe, Lígia. Que conversa atravessada! Deixa o medo de lado, joga fora o que não ajuda…”
Riu e se limitou a dizer:
“- Ok, você conseguiu. Essa Maria…”
Tinha a idade da minha mãe, bem verdade, embora tivesse um ar infantil cheio de traquinagem e a doçura de uma criança no olhar. Me dizia que tinha medo, que não sabia, que disfarçava…mas que me queria. E eu sabia, sempre soube. Por isso que não desisti, nem por um segundo, porque me via refletida nos seus olhos grandes, castanhos. A verdade é que ela queria, tanto quanto eu. E, finalmente, cedia ao desejo de nós duas. Deixaria acontecer, deixaria ir… o sentimento, para onde ele mesmo vai sozinho.
No carro, a estrada seguia e eu me repetia em silêncio: “mal posso acreditar!”.
Chegamos à pousada e nos instalamos num chalé no alto de uma falésia, com vista para o céu estrelado e para o mar arrebentando logo abaixo da falésia, em espumas brancas que vieram nos saudar, espalhando aquele cheiro de mar, de liberdade. Um cheiro infinito.
Fomos, empolgadas como duas crianças, olhar aquela imensidão logo a nossa frente. Ela acendeu um cigarro na varanda, sentada na rede a se balançar devagar, batendo com a perna num movimento ansioso. Abrimos um tinto.
Em pé, ao seu lado, olhando para o mesmo horizonte que ela, eu disse:
– Lígia, não precisa ficar assim. Eu queria viajar com você e isso por si basta, se você assim preferir.
Ela respondeu imediatamente:
– Não é isso, sua tola! É que eu estou mais feliz do que achava que ficaria… e estou ficando um pouco tonta com esse vinho… e riu um riso lindo.
Quis voar em cima dela, ali na rede. Mas não seria assim. Eu havia planejado tudo, preparado tudo. Criei uma estória linda e queria que fosse exatamente daquele jeito que sonhei. Além do mais, um bom vinho não deve ser engolido em um gole só. Tem ritual, tem que saborear. Assim como eu queria que fosse nosso encontro aquela noite, saboreado como um bom vinho tinto, embriagando com seu perfume, sabor, temperatura e o gosto invadindo a língua a garganta. Bem encorpado, rasgando tudo por onde passava.
– Vou tomar um banho e depois, que tal a gente sair para jantar alguma coisa e bater perna na cidadezinha?
Olhou para mim meio decepcionada, como quem tivesse esperando outra coisa, mas fez sinal que sim com a cabeça. Ri comigo mesmo e, enquanto ela fumava e bebia na varanda, entrei no chalé e cuidadosamente preparei tudo.
Retirei de dentro da mala dois pincéis, alguns vidros de tinta colorida para o corpo e um lençol que trouxe cuidadosa e arquitetadamente de casa. Forrei a cama, acendi duas velas, apaguei as luzes e me deitei apenas com uma calcinha de renda branca, de barriga para baixo, com as tintas e pincéis espalhados pela cama e um bilhete que dizia assim:
“Hoje eu quero ser uma pintura sua. Pinta o meu corpo com as cores de sua alma, sem medo de morrer comigo… e não diz nada, não fala nada. Apenas me pinta…”
Poucos minutos depois ouvi a porta da varanda se fechar. Era ela entrando. Me deu frio na barriga, coração acelerou. Permaneci imóvel, como quem estivesse dormindo. Ouvi os passos se aproximarem, fiquei de olhos fechados. Cada vez mais perto… prendi a respiração. Ouvi ela tirando os sapatos e outros barulhos que não pude identificar.
Senti a cama afundar ao meu lado, devagar. Eram seus joelhos. Fazia um silêncio tão profundo que pude ouvir sua respiração ofegante. O barulho do papel. Leu, deixou de lado. Permaneceu quieta ao meu lado, me olhando seminua, com a respiração forte.
Senti um toque suave bem no meio de minhas costas. Era um dedo seu a deslizar pela fileira de minha espinha, que eu sentia totalmente arrepiada. Dedo que deslizou do meio para baixo, depois para cima e para baixo novamente, chegando no meu cóccix e descendo pelos lados, de um para o outro, e subindo novamente até a minha nuca. Eu estava toda arrepiada e meu coração batia tão forte que eu podia sentir no colchão.
Um, dois dedos passeando por minha nuca, depois o polegar. Respirei forte, coração acelerado, frio na barriga, olhos fechados, mordendo a boca e franzindo as sobrancelhas. Que toque suave ela tinha! Que mãos delicadas, macias, a deslizar por minha nuca…
Afastou meus cabelos e deixou todo o meu pescoço de fora, se mostrar. Desceu a mão percorrendo o mesmo caminho, a mesma linha da coluna, até descer pela perna direita devagar… sentindo a textura da minha pele,minha maciez. E eu ali, entregue de corpo e alma, me molhando a cada segundo que se passava.
Quando ela desceu por minhas coxas eu já estava completamente úmida e levemente tremendo. Abri as pernas devagar… e ela tirou a mão.
Suspense.
Prendi o ar nos pulmões até sentir um toque gelado, diferente, molhado, na altura de minha cintura. Era o pincel. Que cor teria escolhido? Que desenho estaria fazendo no meu corpo?
Continuou alternando entre cores e lugares, me pincelando o corpo. Espinha, costas, nuca, bunda, pernas, pés. Depois, foi se deitando levemente por cima de mim… e senti que também estava apenas de calcinha.
Um calor me tomou na mesma hora e senti seus seios tocarem minhas costas. Os bicos duros de tesão. Colocou a perna direita no meio de minhas pernas e passou o pincel de baixo para cima, parando na minha nuca novamente. Trocou o pincel pelo hálito quente, na minha orelha. Só nossas respirações em descompasso trêmulo e ofegante. Senti as batidas do seu coração no meio de seus peitos espremidos contra minhas costas. Passou a língua devagar e quente em minha orelha, dando mordiscadas levinhas e me fazendo perder o juízo de tanto tesão.
Permaneci entregue enquanto ela esticou os braços até alcançar com suas mãos as minhas mãos e me virou de frente para ela, por cima de mim.
Abri os olhos e ela estava deitada com o corpo pesando sobre o meu a um centímetro de minha boca. Mas se afastou séria, com os olhos brilhando a me fitar. Desceu as mãos até minha calcinha e, devagar, me desnudou. Meu coração parecia que ia pular para fora. E, me provocando ainda mais, elevou minha calcinha até seu rosto e cheirou profunda e longamente, sentindo a umidade no pano a tocar seu rosto, como uma prévia do que beberia. Em seguida tirou sua calcinha e eu a vi nua para mim, de joelhos à minha frente, gostosa, me provocando. Ficamos nuas,uma para a outra.
E era assim que eu a queria para mim, inteiramente ela. Inteiramente nós duas. Nossos cheiros impregnados, misturados, fortes. Eu podia sentir o cheiro do nosso sexo exalado no ar e o calor no meio de minhas pernas.
Pegou novamente o pincel, molhou no vidro de tinta e começou a pincelar minha barriga… lentamente… suavemente… como quem pintava uma tela de muito valor sentimental. Eu não conseguia tirar meus olhos dos seus, que fitavam cada centímetro do meu corpo, das minhas curvas, de meus ombros.
Olhou para mim e pincelou ao redor dos meus peitos, depois, em cima dos bicos duros. Duríssimos. Desceu, pelos lados até o ventre e pintou a minha fertilidade, descendo até onde eu latejava: a boceta úmida.
Mas de maldade e para me provocar, ficou na virilha, para cima e para baixo, entre as coxas e novamente foi subindo até largar o pincel definitivamente, deitar completamente nua em cima do meu corpo colorido e ficar novamente a um centímetro de minha boca, já entreaberta esperando o beijo que eu já havia beijado em pensamento tantas vezes…
Inclinei a cabeça para atrás, oferecendo meus peitos e entregando minha boca e ela me tomou para si num beijo suavemente agressivo,procurando dentro de mim algo que queria para si. E eu dei. Dei meu beijo, minha saliva, meu torpor.
Nossas línguas se misturavam ao mesmo tempo em que ela pôs as mãos nos meus peitos duros de tesão. Apertou com força, me espremeu um gemido transbordado. A abracei por baixo, apertando-a contra meu corpo, querendo-a ali,sempre mergulhada em mim. Segurei por trás de sua cabeça, sentindo seus cabelos lisos escorrendo para baixo, caindo por cima do meu rosto. Acariciei sua nuca e entrelacei minhas duas pernas ao redor de seus quadris, tornando-a, também, minha refém.
Ela gemeu junto comigo e começamos a nos esfregar uma na outra no mesmo ritmo e velocidade. Movimentos circulares, molhados, encaixados, se escorregando, se complementando. Senti sua mão direita ir descendo pelo lado até apertar a minha bunda carnuda que rebolava junto com meu quadril inteiro me esfregando nela.
Colocou a mão direita na minha boceta quente e me penetrou com um dedo devagar. Depois, dois dedos inteiros, me fodendo deliciosamente, enquanto eu a agarrava com as duas pernas e morria minha boca em sua boca…
Metia e tirava os dois dedos de dentro de minha boceta que espremia apertada com meus músculos a sua mão habilidosa. Toquei sua boceta com fome, senti que estava completamente molhada e quente. Depois, levei a minha mão até a boca e provei seu gosto. Que delícia… ela me beijou com o seu gosto em minha saliva. Gosto de sua boceta.
Me sentia dela, me sentia inteiramente dela. Queria dizer tantas coisas, mas nada alcançaria o que nossos olhos diziam entre si… E permanecemos caladas, grudadas, suadas, sentindo o cheiro do nosso sexo no ar, salivando de desejo, consumindo o desejo e fodendo deliciosamente. Ela me fodendo e eu dando a ela, sendo sua mulher pela primeira vez.
Enquanto me fodia com a mão, esfregava a boceta na minha, junto comigo, freneticamente. E cada vez mais intensamente e mais rápido. A respiração cada vez mais ofegante, suspiros, gemidos, entrega. E naquela noite estrelada e colorida, sem dizer uma palavra, gozamos grudadas uma na outra, entregues àquele momento, permitindo aquele encontro, sem medo do porvir.
Um gozo forte, intenso, verdadeiro, explosivo. Junto. Caiu com o corpo pesado de cansaço e prazer, molhado de suor e amor, sobre o meu. E quebrou o silêncio me dizendo:
– “Sabe aquele quadro que você gostou no dia em que nos conhecemos? Ele é seu…”
Meus olhos se encheram de lágrimas e, feliz feito uma criança, brinquei:
-“Eu já sabia… que você havia pintado ele para mim… antes de me conhecer.”