Uma tarde comum. Um amanhecer pra lá de comum.
Ir de um canto ao outro, escolher aquele caminho… Tudo era muito comum.
Acordar sobre os trilhos, sacolejar na Maria Fumaça até que o corpo molhasse com gotas de suor. Eu precisava ser um gato. Lamber-me e refrescar a pele. Amenizar o desejo. Calçar-me de segurança e dar a posse, do meu corpo, a alguém.
Naquele vagão, umas quarenta pessoas se espremiam. Difícil perceber alguém. Ainda que um perfil me chamasse à atenção, eu não perderia aquele ar cansado e desanimado e não deixaria de suar. Ainda tinha mais, aquele lacrimejar constante de tristeza. Isso eu não largava. Queria sofrer de ódio. Mas, não. Doía leve, ainda. Permanentemente, doía.
Se um corpo se movia em meio à multidão, feito capim ao vento, tudo se movimentava no vagão. Todos se ajeitavam permitindo sua passagem. Eu só olhava, sem intervir nos brancos dos olhares, que disfarçavam naturalidade com a passagem dessa pessoa.
O calor me possuía. Eu iludia meus desejos abrindo e fechando as pernas. Como que abanando meu sexo com as partes internas das coxas.
A paisagem passava em meus olhos como um convite. Debrucei-me. Deliciava-me com o vento a entrar em mim. Parecia que meus pés corriam de mim.
Tudo passava menos um respirar que tocou-me a nuca. Gelei.
Seria mesmo um alguém atrás de mim… Alguém tão perto ao ponto de sentir-lhe a respiração e o calor do hálito?
Meu corpo todo sentiu um frio e imediatamente pude sentir um toque. Leve e úmido, um toque de pequenos dedos que eu media como grandes desejos.
Seria alguém capaz, de naquela multidão me pegar… Provocar-me em meio a minhas lágrimas?
Em segredo, me continha… Eu permanecia.
Sentia. Duvidei de mim, do meu gostar, do meu querer. Mas o toque se manteve, também.
Permanentemente doce em meu corpo, apenas um dedo se movimentava. E a mão, toda espalmada em minha bunda, marcava o tempo do trilho, como que marcando seu momento, seu terreno. Marcava a mim como uma peça, um objeto qualquer sem relíquia. E isso me agradava. Fazia-me sentir em uso.
O vagão parecia cheio e naquele vagão pequeno eu sendo tocada pelas mãos de uma pessoa que junto com outras, se aglomerava e se amontoava. Umas em cima das outras.
Certamente, ninguém me olhava.
Meu peito inflava em vontades e me sugeria esconder isso das pessoas. Virava-me mais para a janela. Parecia querer oferecer-me mais… E a mão me aceitava… E eu virava, delicadamente para que não me achasse vulgar… Eu queria sumir… Desintegrar-me… Ou simplesmente, me entregar às mãos que me queimavam ao toque. Poder da pele que toca a pele.
Então eu podia me sentir querida… Podia me sentir desejada e fechar os olhos? E me entregar?
Subiu a mão… Convidava-me ao covil. E eu queria! Dizia meu sexo… Diziam meu pensamentos para mim… Eu latejava e esperava… Não! eu implorava que aquele toque nunca mais terminasse. Que aquilo evoluísse e que eu pudesse me entregar inteira. Que tudo aquilo eu pudesse viver. E ela entrou na minha pequenina calça. Deve ter sentido o quanto me molhava aquela situação.
Não sei nem se estão vendo. Se estão me vendo. Olhando-me nos olhos certamente, não!. Meus olhos não olham. Acho que reviram. A paisagem me olha e parece sorrir pra mim. E nessa fantástica viagem de sonhos, eu me vejo perdendo, outra vez, a virgindade ingênua… Aquele maldito cabaço que me feriu uma vez. Que me fez nascer o medo do sexo, que por tempos me fez aguardar o gozo.
Hoje não dói. Hoje é uma delicada delícia. Até que se torne a brutal sequência de movimentos. De entrar e sair, de me envolver em caldos, de me levantar até as nuvens. Hoje ele me faz sentir vida na cintura. Convida-me a rebolar. Abre-me as pernas e empina minha bunda. Bendito cabaço, amigo.
De onde vem essa mágica que me faz imaginar teu rosto. Teu cheiro e você de posse do meu traseiro? Entra… Tens permissão de rasgar meu corpo e me levar ao delírio! Obediente, leu meus pensamentos. Me entrava, aquela mão, desvendando-me em cavernas.
Ai, que desejo grande. E essa mão que parece saber o que me provoca.
De quando em quando, parece parar os movimentos, não sei se pelos olhares ou se para me ouvir os gemidos incontroláveis da alma.
Meus mamilos se arrepiam e pedem mais… Pedem que os toque. Discretamente, sem que se perceba toco-me e demasiadamente embriagada, minha cabeça pende para o lado, pedindo socorro a grade da janela.
Rebolo, agora compassadamente. A mão, parada, alimenta a fantasia e me tira do sério. Mordo os lábios para não gritar meu segredo aos verdes campos. Sou eu que me esfrego naqueles dedos trançados em meus pelos. Sou eu que oriento os dedos para que toquem o botão mágico que me levará ao clímax e sou eu que contraio as coxas como querendo afogar aquela mão em mim. Vontade que me entre toda. Que me soque e que traga meu gozo como um alazão selvagem.
Me esfrego, e esfrego, e esfrego…um delírio que já me revira os olhos…o ritmo…feliz essa paisagem com cheiro de sexo roubado…me esfrego, e esfrego, e esfrego…
– Bilheeete! Diz o cabineiro… Num átimo de lucidez, me recomponho e saio em disparada na direção do vagão central. Não sei o que aconteceu e tento disfarçar meu tesão que parece estar estampado em meus lábios que se avolumaram.
Tenho cara de sexo, de quem saiu da cama que trepou. Parece que todos me olham e suspeito ter sido usada por todos os homens daquele trem. Sinto-me usada e com um incontrolável desejo de quero mais que me queima as entranhas. Eu daria para aquele estranho a noite toda. Aquela mão me fez mais mulher na multidão do eu todos os homens que eu há tive na vida.
Olho a placa acesa. Damas. É ali aonde vou.
Atravesso o estreito corredor onde pessoas se esbarram diante de uma pequena fila. Aguardo ansiosa. Outra mulher se posta na fila. Parece também ter urgências. Seus óculos Rayban escondem metade de sua beleza. Disfarça espertamente seu vigor jovial. Sorrio.
A fila é comida pelo tempo e chega minha vez. Entro. E para meu espanto a moça do Rayban força sua entrada, também. Me espanto e tento propor que ela vá na frente. Ela me cala a boca com a mão e me empurra para dentro do pequeno reservado.
Tento argumentar e ela me cala, dessa vez com uma chupada nos lábios, que não fosse pelo vigor, poderia chamar de beijo. Aquilo quase me machuca e eu tento resistir. Tento sair, tento não sei como, acabar com aquela situação, ali mesmo. Mas ela era tão rápida. E se eu saísse dali com ela, o que iriam dizer as pessoas da fila que já deveria estar se formando. Não entendia nada. Ela me apalpava e metia suas ágeis mãos por dentro da minha roupa. Parecia procurar uma coisa, uma jóia que eu escondera em meu corpo. Quando eu novamente tentava lhe pedir explicações, sua língua voraz invadia a minha boca e se enlaçava a minha língua.
Comecei a apreciar aquilo. Parecia que eu fazia parte de um quadro, uma pintura surreal. Ela tinha total domínio da situação e eu gostava daquilo. Mal largou do meu beijo, me deixou com a boca entreaberta esperando mais língua, e voou para meus mamilos. Naquele cubo apertado, o calor era insuportavelmente excitante. Sua boca fazia miséria. E enquanto me chupava hora o colo, hora um dos mamilos, com a mão apertava meu outro peito como se já fosse seu. Eu estava viajando naquela realidade. Nunca havia tido nem um tipo de intimidade com mulheres. E aquela… Parecia-me tão jovem e mesmo assim, ensinava-me os movimentos do corpo. Usava partes de mim que nunca eu, havia usado. Puxava meu ventre para frente com um punho forte, se esfregava em meu púbis. Tudo cadenciado. Tudo ao mesmo tempo. Estava louca de tesão. Nada me faltava.
Foi então que sua mão esperta escorregou dentro de minha roupa e eu tive um momento de clareza tão forte que interrompi seu trajeto. Segurei-lhe a mão impedindo que continuasse. Reconheci aquele toque. Era a mão do homem. Que só então soube ser dela. Aquilo não podia estar acontecendo. Ela deu-me, caridosamente, trinta míseros segundos para questionar. Foi o tempo de retirar os óculos Rayban, socar sua língua em minha boca e num beijo demorado, molhado por meu gosto, começou a descrever o que estava sentindo. A quantidade de desejos que a situação lhe provocava, o que ela gostaria de fazer com meu corpo nu em uma cama…eu permiti que aquelas palavras me dominassem a audição. Novamente, me abri para ela. Era como um convite entre minhas pernas bambas. Meu sexo dizia: Entre! Estou em suas mãos…
Ela me beijava e balbuciava palavras tesudas e seus olhos se mantinham abertos. E era um olhar tão lindo e ingênuo, mas um olhar de quem sabia o que fazer no próximo instante. Era o beijo mais incrível que já tomei.
Abri bem os meus olhos, abri a minha blusa, meu coração e por último mais ainda as minhas pernas. Ela delirava e me dizia no ouvido que ia me comer gostoso, como nunca, jamais, homem nenhum havia me comido. Que eu ia se, por alguns minutos, tratada como uma rainha… e chupava meus peitos, minha boca, minha língua e a sua boca percorria minha barriga, meu pescoço, meus ombros e nós nos espremíamos no cubículo, e ela parecia dançar… De tão lindo os seus movimentos.
Delicadamente, mas cheia de vigor ela me ajudou a sentar na pia. Minha calcinha acompanhava a traquinagem e já estava no chão. Rapidamente, sem que eu sentisse ou tivesse tempo de demonstrar alguma resistência, ela já a havia tirado. Eu estava nua da cintura para baixo, com minha blusa aberta e minhas pernas arreganhadas com uma mulher no meio delas. E estava feliz. Meu peito arfava e os gemidos saiam de minha boca como sorrisos.
Nunca uma boca fez tantas piruetas deliciosas em minha vulva. Sua língua era mesmo mágica. Era aplicadíssima em ensinamentos táteis. Sugava-me no lugar certo e no ritmo tão cadenciado que até uma passista de escola de samba, se sentiria inspirada . Aquela boca dava samba. Eu rebolava o quanto podia, não conseguia ficar parada, sem me requebrar perdidamente pelos encantos do sexo casual.
Queria gritar que estava adorando, mas sua mão me tapava a boca, e delicadamente, entre uma lambida e outra no meu clitóris, ela falava suavemente, ao som do ranger dos trilhos: – Eu sei! Eu sei…
Eu estava prestes a gozar. Queria inundar aquele trem com meu prazer. Meus olhos ainda lacrimejavam, mas agora por outra razão. Eu queria que ela entrasse em mim e que ficasse como um visitante querido.
Sua mão se preparava. Entrou em mim dois de seus maiores dedos. Eu quase nem senti, tamanha estava minha excitação. Eu estava aberta, pronta para recebê-la. E ela vinha. E sua língua permanecia em mim. Três. E eu pedia que viesse mais. Queria todos. Quatro. Sua mão afinou. Seus dedos se juntaram. Cinco. Todos. O punho. E eu explodi em gozos. Foram dois ou três múltiplos gozos. E eu remexia os quadris. Naquele aperto. Naquele frenesi eu me remexia e gritava. E o trem apitou. Freou o trem. O roçar dos trilhos e do motor parando. Chegando. Ela puxou a mão, com cuidado. Senti uma forte pressão. Suportável e justa, diante da intensidade do gozo. Ajudou-me a descer da pia. Lavou a mão. Colocou seu Rayban e desceu, naquela mesma estação.