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Pelo direito de transitar

Semana passada rolou o Carnaval Revolução a última edição de um evento que existe desde 2002, com a proposta de aproveitar o período do carnaval para discutir alguns temas de relevância na cena rock, como veganismo, caos urbano, punk, e muitas etcs. Fui até lá conferir um pouco das discussões sobre sexualidade e agora espero conseguir organizar minhas idéias pra compartilhar aqui um pouco do que vi por lá.

Um debate bem interessante foi proposto pelo Robson, de Salvador, com o nome “Sexo, magia e trânsito divergente”. Devido ao tempo insuficiente, falou-se muito mais sobre sexo e trânsito do que precisamente sobre a magia, definida por ele como a mudança da realidade através da vontade.

No início a discussão ficou presa entre dois pólos: afirmação da identidade X liberdade de ação. Algumas pessoas defendiam que homossexuais devem se assumir – até de forma provocativa – para mostrar que existem. Outras acreditam que devemos garantir todas as possibilidades sem se prender a rótulos. E então eu me pergunto: por que não fazer as duas coisas?

Eu, por exemplo, concordo – e muito! – que a afirmação pública da identidade é extremamente necessária. Mas penso também que a contradição não só faz parte do ser humano como é necessária para impulsionar crescimentos constantes, assim, tenho liberdade para ser o que eu quiser, mas também para mudar de opinião e defender um novo ponto de vista.

Quando se fala em afirmação da identidade gay a compreensão é muito simples, basta “sair do armário” e não ter vergonha de se mostrar acompanhada em público. Mas o que seria a afirmação da identidade bissexual?

Se afirmar vai muito além de beijar a namorada no shopping! Se afirmar, pra mim, tem a ver com auto-conhecimento, aceitação e defesa de seus pontos de vista sempre que for possível e/ou necessário. Posso dizer que passei por uma longa revolução pessoal até me sentir bem resolvida com a minha sexualidade. E, dentro dos meus conceitos, acredito que contribuo com a visibilidade e afirmação da identidade bissexual.

Não só no âmbito da sexualidade, mas em todas as questões importantes de nossa vida, é importante tomar posição. Mas se assumir é um processo que passa por diferentes pontos em cada pessoa, é uma experiência única, que parte da revolução pessoal de cada um. O mais importante seria percebermos que não existe uma fórmula, regra ou padrão. Estamos falando de sexualidade, pôxa! Existe ago mais pessoal do que isso? Não basta procurar em qual discurso pronto você se encaixa, o melhor seria que cada um buscasse o seu, e que todos, além de conviver em harmonia, pudessem descobrir seus pontos em comum para trocar idéias e discutir situações do dia-a-dia.

É aí que entra a questão do trânsito! Todas nós podemos ser um montão de coisas! E a liberdade que nos permitimos é exatamente o que garante esse direito de transitar por onde quisermos. No entanto, sempre criamos rótulos para definir o que somos, e isso não acontece só com a sexualidade, mas também com a alimentação, política, música, esporte, etc.
Sempre fico me perguntando se todo gay adora música eletrônica ou se apenas se submetem a suportá-la para usufruir daquele ambiente seguro.

Categorizações são sempre perigosas, pois obrigam a abstrair o conceito de indivíduo e passa-se a avaliar cada pessoa de acordo com o grupo a que ela pertence. A partir daí, cada um tem que escolher um único grupo e se encaixar no conjunto de ações pré-definidos de acordo com o que se espera dele. E aí lembro de uma passagem do debate, quando o Robson contou que presenciou dois caras se beijando num baile rap. Houve, sim, comentários maldosos, mas há algum tempo atrás tal situação seria impossível sem que eles apanhassem depois.

É desse tipo de evolução que estou falando…
É óbvio que nem todo gay gosta de música eletrônica! Então será que o caminho não seria nos esforçarmos pra construir cada vez mais ambientes livres, onde todos pudessem ir e cada um pudesse ser o que quiser? Difícil? Talvez… Mas o tal conceito de magia pode facilitar um pouco as coisas, ou seja, se tivermos vontade, podemos começar essa mudança dentro do nosso próprio círculo de amizades. E aí, quem sabe a coisa não começa a caminhar mais naturalmente…

Bem… Os debates no Carnaval Revolução renderam mais de cinco horas de discussões e milhões de revoluções pessoais na minha cabeça. Lógico que seria impossível transmitir em um único texto tudo que aprendi/discuti/refleti por lá. Faço, portanto, um convite a reflexão: pensem um pouco sobre essas questões, me mandem suas opiniões e daqui a 15 dias a gente volta a trocar idéias por aqui. Combinado?

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