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Sem Passado

Deslizava o dedo de leve pelos bicos dos seios rígidos pelo contato da língua que brincava sem pressa aqui e ali, como se não tivesse destino certo para direcionar todo aquele prazer que parecia infindável.

Chegou ao sexo, abocanhou de leve o clitóris sugando-o como se beijasse a boca que estava entreaberta em gemidos. Os olhos fechados, a carne trêmula, a respiração ofegante. O sexo contraía e relaxava enquanto erguia os quadris esperando que a língua entrasse mais fundo no ritmo desordenado do desejo.

As unhas pressionavam nas costas quando o sexo foi de encontro ao seu e confundiu o esmalte vermelho com o sangue que minava das marcas deixadas. Não esperava que o orgasmo viesse tão sôfrego, tão melancólico em meio à loucura, se repetindo tantas vezes quanto puderam suportar, empurrando-se como se não quisesse mais largar, num duelo de mãos e desejos intermináveis.

A música alta silenciou o gemido mais forte, mas foi ao ouvido que disse: Eu te amo! Com lágrimas nos olhos, sorriso nos lábios, sexos molhados e respirações voltando ao normal no peso dos corpos suados e ainda quentes do amor. Pairava no ar o cheiro, o viço de algo interminável, insaciável e incondicional. Como se outro corpo jamais tivesse feito parte daqueles corpos unidos em cadência, lascívia e paixão.

Não busque respostas para o que o momento não repete. Era único e palavras não existiriam para descrever aqueles dias. Não falavam sobre isso nunca. O passado não interessava. Nada queriam saber sobre outros relacionamentos. Era aquele momento eternizado no beijo demorado e no suor que escorria do corpo sobre o outro molhando os lençóis e deixando sua marca eternamente naquela mesma cama onde o passado tantas vezes se fez presente.

Fez de cada dia uma poesia, um soneto, uma composição lenta de sentimentos e alegrias pausadas pelo sempre ter que ir para algum lugar. Ainda assim, estavam em união o tempo todo. Naquele amor sem receio de ser amor, sem medo de realizar tudo que o momento necessitava, aplacava a dor dos amores passados trazendo o esquecimento quando seus olhares se cruzavam.

Esperança e outono. Início e fim.

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