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A Esfinge

Era uma menina brincalhona, ao mesmo tempo que era uma mulher provocante. E brincava com meus desejos como ninguém. Quando eu soube de sua idade, tive medo: 19 aninhos. Quis recuar, explicar que não daria e tal, mas ela me enfrentou e me deixou na parede; com a coragem e inconseqüência que apenas uma menina de dezenove anos teria; com a firmeza de seus seios e coxas; com sua boca carnuda e molhada; com seus olhos atravessando os meus; com a promessa de uma noite louca.

Já não dava mais para fingir que ela não atravessara minha vida, era impossível ser a mesma depois do rastro que ela deixara e me cercavam por todos os lados.

Uma bailarina talentosa, sensual e dedicada que passava horas dançando na companhia onde ensaiava. Uma menina-mulher atrevida, que me atacava sem medo nem receio, sem pensar no futuro e sem olhar para os lados. E com seus pêlos, olhos, sapatilhas de ponta, jeté volle, e voltas, a bailarina rodopiava em meus pensamentos a cada dia mais, como uma brincadeira doce e deliciosa.

Tinha 1.74m de ternura e sex appeal, tão bela quanto aquelas bailarinas que dançam numa caixinha de música, que guardamos para sempre em cima da penteadeira. Um sorriso lindo, uma gargalhada gostosa de ouvir, a meiguice de uma princesinha delicada e ousada, louca para me beijar.

Não, eu não tinha como negar a invasão daquela mulher nos meus pensamentos. Eu queria seqüestrá-la para mim. De preferência para um lugar bem longe onde pudéssemos viver um conto de fadas daqueles em que se é feliz para sempre.

Ela sabia muito bem o que queria, era decidida e queria a mim e não poupava declarações, investidas e cantadas que me deixavam perplexa. Adorava jazz, blues, música erudita, história antiga, do Egito, assuntos ligados à natureza, era vegetariana, tinha curiosidade sobre o budismo e me encantava a cada dia com seus gostos e sua maturidade precoce, apesar da pouca idade: ela sabia viver, sabia cuidar de si e das outras pessoas. E sabia que era gay. Até mais que eu, ela era muito gay, embora tivesse tido pouquíssimas experiências. Parece que se guardava para um grande amor.

Usou de todas as suas armas para me seduzir. E conseguiu. Eu só tinha um pensamento que era a sua boca, o seu pescoço, os seus cabelos longos e negros, o seu corpo escultural, as suas bochechas para morder, as suas risadas para escutar, a cama para me deitar ao seu lado. Acho que estava me apaixonando… por uma menina. Uma menina doce e sensual, uma menina linda, menina dos meus olhos e sonhos, que eu queria viajar e apresentar o mundo por onde eu fosse a protegendo de qualquer mal.

Certo dia me chamou para acompanhá-la à uma festa com temática lésbica numa boate muito conhecida da cidade. Não pensei duas vezes.

Quem no mundo conseguiria recusar um pedido desses?

Era noite de um sábado e marcamos na entrada da boate. Cheguei com um vestido especialmente escolhido a dedos: nem curto, nem longo, mas no tamanho ideal, de seda fina, preto, com um decote belíssimo na frente. Ela já me esperava Alina frente.

– Dona Anitta, dona Anitta, ela me provocou quando me viu, arqueando a sobrancelha e com um leve sorriso nos lábios.

Sorri de volta e pisquei o olho:

– A boate está lotada hoje, não é? Chegou faz tempo?
– Cheguei agora.
– Veio com quem?
– Com você, brincou.

Olhou profundamente para mim e eu me senti completamente entorpecida, dopada por aqueles olhos amendoados, imensos e castanhos. Olhou por um segundo que pareceu mais uma eternidade e interrompeu aquele torpor me perguntando se eu queria algo para beber.

– O que você bebe?
– Mojito, quer?

Ela segurou minha mão e me puxou para o bar. A boate estava lotada, colorida, vibrante no som do DJ que quase ensurdecia nossos ouvidos e tremia as paredes.

Depois das primeiras doses de Mojito achei que ela ficou um pouco bêbada e ainda mais provocante.

– Vamos dançar? – sugeriu.
Por conta do barulho muito grande, não entendi:

-O quê? Não ouvi!
– Dançar! Lá no meio do salão, gritou de frente para mim.

Fiz cara de quem ainda não havia entendido muita coisa e ela se aproximou lentamente do meu ouvido, encostou a bochecha na minha e disse com a boca encostada no meu ouvido, me arrepiando toda:

– Quero dançar para você no meio do salão, vem!

Me puxou mais uma vez pelas mãos. Uma menina quase dez anos mais nova que eu, que insistia em me conduzir. Achei graça e deixei que me levasse. Ela estava deslumbrante, com um salto agulha, uma mini saia jeans, uma blusa vinho com as costas nua, colares, pulseiras e duas argolas prateadas nas orelhas. O cabelo sempre mantinha solto e o cheiro do xampu vez por outra subia ao meu nariz me deixando ainda mais envolvida.

Vinha se aproximando cada vez mais até encostar todo o corpo no meu e eu, de vestido, pude sentir o calor de suas coxas roçando nas minhas enquanto sua barriga colava na minha e seus seios se espremiam nos meus.

Aquela menina, ontem uma adolescente, era mais que uma Lolita moderna, era tentadora, avassaladora, e sabia do seu poder.

– Pequena, pequena…Você é um perigo! – falei olhando para sua boca linda e ela lambeu suavemente seus lábios gostando do que tinha ouvido.

Estávamos dançando abraçadas ao som do remix de “Eu comi a Madonna”, da Ana Carolina. E, claro que eu aproveitei a oportunidade, disse no seu ouvido:

– É dessas mulheres pra comer com dez talheres, não é?

Ela apertou minhas costas com as duas mãos e atacou a minha boca de supetão. Abri a boca em redenção enquanto ela começou a me consumir ali, no meio do salão, chupando minha língua com maciez e tomando minha saliva.

Senti um arrepio que me tomou dos pés à cabeça. Queria naufragar no vapor de sua boca, no macio do seu beijo.

À medida que aquilo se intensificava e ela me devorada sem piedade, nossos corpos iam se espremendo um no outro mais e mais, e nossas pernas se entrelaçavam com muita força, numa provocação simultânea. Ela enfiou o joelho direito entre minhas duas coxas e fingiu me penetrar ali mesmo. Me molhei toda, fiquei louca. Revidei mordendo sua boca e puxando seus cabelos com minha mão direita, levemente para atrás.

– Menina, menina, repeti extasiada.

E ela respondeu com a maior cara de safada:

– Dona Anitta, Dona Anitta…

Senti meu sexo latejar de tanto tesão, e no ouvido dela e disse:

– Por que não me faz uma proposta indecente?
Ela voltou ao meu ouvido e disse:

– Será que a fila do banheiro está muito grande?

Nos trancamos, aos beijos, na última cabine do banheiro feminino.

Estava apertado, mas nada seria capaz de nos fazer parar àquela altura do campeonato. Eu estava debruçada sobre ela, que estava encostada na porta e de frente para mim. Lambi sua boca segurando no seu rosto com minhas duas mãos. Ela revirou os olhos e me pediu “mais”. Lambi de novo. Ela me provocou me pedindo ainda mais.

– Mais, mais, mais.

E eu lambia sua boca, sua orelha, seu pescoço suado, salgado, delicioso, cheiroso. Ela passou a mão por minhas coxas e me apertou, depois subiu um pouco mais e chegou até minha calcinha, completamente molhada por ela.

– Hummmm, que delícia você está dona Anitta!

-Viu? A culpa é sua, menina. Ajoelhou, agora vai ter que rezar, falei com um sorriso sacana na boca…

– Ah é?Quem vai rezar aqui é você!

E apertou a minha bunda deliciosamente. Soltei um gemido gostoso.

Inverteu toda a situação me virando de costas para ela e de frente para a porta. Com os corpos grudados mais uma vez, dançamos ao som do DJ nos esfregando uma na outra.

Eu estava completamente louca de desejo, de vontade de comê-la ou de ser consumida por ela. Não importava nada mais, eu só queria aquela mulher para mim.

Entre palavras, carinhos, beijos, dança de dois corpos um no outro, o pouco espaço que tínhamos, o nosso desejo apenas aumentava descompassadamente. Ainda mais colada nela, coxa com coxa, pondo as mãos nos seus seios firmes, rígidos e gostosos, dançávamos juntas. Ela levantou meus braços me rendendo. Rendida, mordi a boca e fiquei entregue a ela.

Senti um frio na barriga e fiquei parada na sua frente. Desci os olhos à sua boca, ela fez a mesma coisa e foi chegando mais e mais perto dos meus lábios devagar, como um bicho que se prepara para atacar sua vítima. Me afastei levemente, aquele jogo estava ficando muito delicioso e fui andando para trás até me encostar novamente na porta e ela me cercou com seus braços, sem me deixar escapar dessa vez. Olhou dentro dos meus olhos. Linda como uma loba, cabelos caindo sob os olhos amendoados, blusa caindo levemente e deixando o ombro direito a mostra, a boca semi-aberta e um sorriso safado que me deixou hipnotizada. Me disse:

– Seja uma moça boazinha, vá. Não vai se arrepender, prometo.

– Me dou por vencida, respondi.

Ela jogou a boca na minha mais uma vez enfiando a língua molinha dentro da minha boca, encontrando com a minha língua, numa dança deliciosa. Empurrou o corpo inteiro no meu, pondo a perna no meio das minhas, pressionando entre minhas pernas. Eu estava quase sentada em sua coxa e rebolava para ela mais e mais.

Fiquei sem chão.

Nos misturamos com o calor do banheiro, esquecemos da fila do lado de fora, esquecemos da diferença entre nossas idades, esquecemos de tudo ao nosso redor e nos agarramos com toda a força dos nossos corpos…

Suadas naquele aperto, misturávamos nossos cheiros e nos derretíamos nos lábios uma da outra com vontade de nos comer ali mesmo, inteiras. Minha vontade era de trazê-la para dentro de mim, ali. Ela pôs sua mão detrás dos meus cabelos puxando a minha cabeça para trás até morder a minha nuca dando umas lambidinhas alternadamente com seus dentes que pareciam me ferir, me degustar a pele… e tirou o meu vestido de uma só vez, em seguida se despindo de sua calcinha e ficando apenas de sutiã e mini-saia. Eu, de calcinha.

Passei a mão na sua boceta e a senti quente e molhada para mim. Levei a mão até a boca e senti o seu cheiro bom me convidando para pôr minha boca entre suas pernas. Quem venceria aquela luta? Quem chuparia quem primeiro?

– Agora que eu já tirei o seu batom todinho eu vou tirar sua calcinha, tá?

Falou sacanamente.

“Filha da puta!”, pensei.

-Primeiro vai ter que acertar o código…

Grudei meu corpo outra vez no dela:

– “Se me decifrar, vai me devorar!” – brinquei.

E, no mesmo segundo, ela revidou:

– ESFINGE. O código é esse!

Sorri confirmando e ela tirou minha calcinha devagar.

Ela me apertou mais e soltei um gemido de submissão. Me virou de costas para si mais uma vez, me empurrando contra a parede, inclinada para frente e empinada para trás. Continuou entrelaçada a mim, com o rosto enterrado na minha nuca e o corpo grudado no meu, fazendo força para frente, me deixando presa entre ela e a porta da cabine do banheiro. Que delícia era o jeito dela de me pegar de jeito!

Eu a desejava para sempre, queria que aquele momento não passasse. Admirada ela procurava um novo ângulo para me possuir, descendo junto com as mãos por minhas costas e me enchendo de mordidinhas deliciosas que me deixavam completamente arrepiada. Eu gemia, me dava, me entregava, ali, de costas para aquela menina que parecia tão inofensiva, presa na parede do banheiro, enquanto uma fila se formava do lado de fora…

E ela pôs uma perna entre as minhas fazendo com que assim eu me abrisse toda para seu prazer. Deslizou a mão por minhas coxas, subiu até a barriga, brincou com meu umbigo, subiu até os seios e apertou os meus mamilos já duros. Eu apenas gemia e ela brincava de descobrir o meu corpo passando sua mão sobre mim. E, percebendo o tamanho de minha vontade, colocou a mão entre minhas pernas e me sentiu quente e úmida. Um calor que me ardia de tesão por seus dedos em mim.

– Por favor, pedi completamente rendida.

E ouvi de volta: “com todo o prazer, linda!”

Afastou a minha calcinha para o lado e me enfiou os dedos inteiros me deixando ainda mais lambuzada por ela. Foi escorregando o corpo no meu até ficar de joelhos para mim, que estava de costas para ela. Abriu e lambeu a minha bunda, me deixando toda arrepiada e ainda mais excitada.

– Shhhhh, delícia!

– Tá gostando?

– Mmmm, muito, muito, não pára, vai.

– Não quer que eu pare não é? Quer que eu te meta outro dedo, quer?Acho que você merece…

– Aiiii, não fala assim que eu deixo.

Enfiou outro dedo todo com força e rapidamente, num movimento de “entra e sai” constante, frenético, me possuindo inteira, ali no banheiro da boate, uma menina que me comia deliciosamente como nenhuma outra jamais fizera!

– Shhhhh, mmmmhmm, não faz assim que eu termino gozando, sua louca!

– Ah, é? Vai gozar pra mim, vai?

Ela estava me metendo ainda mais os dois dedos e com o polegar da outra mão fazendo movimentos circulares no meu clitóris, me deixando ainda mais alucinada e trêmula.

De repente, quando o gozo estava prestes a explodir, ela parou sorrindo com aquela cara de safada, tirou os dedos de dentro de mim, se levantou, lambeu seus dedos de meu líquido, e se encostando em mim pôs a boca na minha orelha e depois de uma lambida gostosa me disse:

– Aqui não. Se você quiser esse gozo, vamos sair daqui agora.

Incrédula com a situação ainda sorri, derretida por seu charme, entregue aos seus prazeres febris, e respondi:

– Eu vou com você para onde você quiser, menina…

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